Marcadores Discursivos

Você já ouviu falar em marcadores discursivos?

Olá, pessoal, tudo bem?

Apresentarei para vocês alguns marcadores discursivos, os quais não devem aparecer em nossas redações, porquanto são próprios da fala (oralidade). Em especial, darei destaque aos vocábulos “tipo”, “aí”, agora”, “tipo assim”, “claro”, muito frequentes nas redações, não apenas de adolescentes, mas também de concursandos. Esses vocábulos, mesmo normativos, surgem de forma diferente da sua real classe gramatical. Fiquem atentos a esses marcadores e a outros que destacarei neste artigo.

O que são marcadores discursivos

Entende-se por marcadores discursivos palavras e expressões utilizadas na fala sem que possuam uma relação sintática com os elementos da oração, mas que servem para ligar uma ideia a uma outra, como um sequenciador, por exemplo.

É importante não confundir operador argumentativo com marcador discursivo. Num outro momento, conversaremos sobre os operadores argumentativos.

Os Marcadores Discursivos, embora se apresentem, de forma muito frequente, na linguagem oral, são também perceptíveis em textos escritos. Na maioria das vezes, funcionam como recurso de coesão sequenciador (agora, então, depois, aí, bem, bom, assim…) ou interacional  (pois é, sei, é claro, entende, sabe, sei, sim, não é verdade…).    

Em princípio considerados elementos característicos da conversação, os marcadores foram, num primeiro momento, chamados de marcadores conversacionais. Said Ali (1930, p. 51) mostrou um estudo que se pode considerar precursor e que entrevia uma atenção a essas unidades. Ele as denominou como expressões de situação “uma vez que rareiam no discurso eloquente e retórico e se usam a cada instante justamente no falar desativado de todos os dias”. O autor concebeu as situações possíveis entre o locutor e o interlocutor e estudou marcadores como: mas, então, agora, sempre, pois, pois sim, sabe de uma cousa, como etc.

 Nos estudos direcionados para esse tema, como os de Castilho (1987), Marcuschi (2003), Risso (2006) e Urbano (2006), percebe-se um forte direcionamento teórico correlacionado com a oralidade. Além disso, nesses estudos, apresentam-se posturas diferentes quanto à nomenclatura desses elementos. Em alguns trabalhos, como o de Castilho (1989) e o de Marcuschi (2000), utiliza-se o termo marcadores conversacionais. Já em trabalhos mais recentes, como o de Urbano e o de Risso (2006), surge a nomenclatura marcadores discursivos.

Na verdade, a nova nomenclatura torna-se mais abrangente, exatamente por não se restringir apenas à oralidade, porquanto se verifica também o emprego de marcadores em textos escritos.

Neste humílimo material, abordarei alguns vocábulos como tipo, aí, bom, agora e claro, cujo emprego campeia a fala e a escrita.


           Em 1934, Noel Rosa fez uso do vocábulo tipo por diversas vezes em uma de suas brilhantes composições. Acredito que o poeta da Vila não imaginaria que, passados mais de 80 anos, o tipo vocábulo viesse a ser do tipo indispensável nos discursos dos jovens atuais.

Tipo Zero
Você é um tipo que não tem tipo
Com todo tipo você se parece
E sendo um tipo que assimila tanto tipo
Passou a ser um tipo que ninguém esquece
O tipo zero não tem tipo

Quando você penetra no salão
E se mistura com a multidão
Esse seu tipo é logo observado
E admirado todo mundo fica
Que o seu tipo não se classifica
E você passa a ser um tipo desclassificado
O tipo zero não tem tipo

                                                             (Noel Rosa)

Presença de marcadores discursivos nos textos

Para ilustrar o que se afirma, selecionei algumas passagens de textos, produzidos por alunos do Ensino Médio e também por alunos de Concurso Público, com alguns marcadores discursivos.

Tipo, você se lança no mercado de trabalho sem nenhuma experiência, vem o empresário e diz que você não serve, pois não tem experiência. Certamente, se todos exigem a mesma coisa, nunca que um jovem conseguirá o seu primeiro emprego…”
                                                           (Texto de um aluno do 1ª Ano – 2016)

“Por vezes, os maus-tratos dos quais os animais são vítimas, principalmente os cães, ocorrem pelo fato de seu dono ser uma pessoa frustrada. Como não tem em quem descontar suas angústias e mágoas, agridem os pobres animais com chutes, tapas na cara e, em casos mais extremos, jogam  na parede. Bom, não há nenhuma novidade nisso aqui. Nas redes sociais, há postagens, tipo assim, cheia de descaramento. Houve uma em que a mulher bateu tanto no pobre do cachorro que ele desmaiou. Agora vê se aconteceu alguma coisa com ela. Ninguém liga para esse tipo de coisa, certo. Esse é o problema.”
                                      (Texto de uma aluna do 2º Ano – Ensino Médio – 2016)

“Para se pôr um fim ao preconceito racial, presente no meio esportivo, é preciso que as autoridades busquem punir com muito rigor torcedores de torcidas organizadas, claro que não são todos, só os que vão aos estádios para denegrir a imagem de jogadores devido à cor da pele. Além disso, é importante também a participação da sociedade denunciando os infratores, claro que de forma mais discreta, para não sofrer represálias das torcidas organizadas. Poderia ainda contar com a ajuda de câmeras…”
                                        (Texto de aluno de concurso público – Nível Superior – 2016)

“Não se pode afirmar que tais casos sejam pontuais. A violência nos presídios brasileiros, devido à rivalidade entre as facções criminosas, tornou-se algo quase que rotineiro e isso pode ser comprovado com os noticiários recentes. Nas últimas rebeliões, dezenas de presos foram assassinados, alguns até esquartejados. Enquanto não houver, por parte dos governantes, uma política séria de ressocializar o detendo, claro que isso não pode ser feito de um dia para o outro, a violência, nas penitenciárias brasileiras, continuará fazendo vítimas e deixando o Estado vulnerável aos atos dos criminosos.
                           (Texto de aluno de concurso público – Nível Superior – 2016)  

Bons estudo e até o nosso próximo artigo