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Comentários sobre o tema de Redação do ENEM 2023 + Texto

            Amigo estudante, neste artigo, comentarei o tema da Redação do ENEM de 2023 e apresentarei um texto para que possa verificar a abordagem trilhada para o tema proposto.

            O tema deste ano foi “Desafios para o enfretamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Na prova, havia quatro textos motivadores.

            Para uma boa compreensão de um tema, torna-se essencial a percepção de algumas palavras-chave as quais possibilitarão a condução do texto. Neste tema, além da ideia central “trabalho de cuidado realizado pela mulher”, há duas palavras importantíssimas “desafios” e “invisibilidade”.

            A compreensão da ideia central do tema é que o trabalho de cuidado se atribui à mulher, ou seja, cabe à mulher exercer essa atividade. No que diz respeito às palavras-chave “desafios” e “invisibilidade”, entende-se que os desafios estão relacionados, por exemplo, a uma questão cultural e histórica, à discriminação, ao poder aquisito; já a invisibilidade se relaciona ao fato de não haver, por parte da sociedade e do Estado, o reconhecimento pelo trabalho de cuidado. 

            Os textos motivadores reforçam a ideia central do tema, ou seja, que o trabalho de cuidado, no Brasil, recai sobre a família, especialmente sobre as mulheres.

            O texto 1 informa que o trabalho de cuidado não remunerado ou mal pago é assumido por mulheres e meninas em situação de pobreza. Destaca ainda que são vítimas de discriminação em decorrência de sua raça, etnia, sexualidade e nacionalidade.

            O texto 2 traz um gráfico o qual apresenta o número de mulheres e de homens que se dedicam aos afazeres domésticos e/ou às tarefas de cuidado. Neste gráfico, constata-se que o número de mulheres é duas vezes maior do que o de homens.

            O texto 3 enfatiza que, no Brasil, a delegação do trabalho de cuidado destina-se à família; e esta, à mulher.

            O texto 4 enfatiza o aumento de pessoas que demandam serviços de assistência. Reforça a ideia de que, no Brasil, o protagonismo ainda é da família.

            Constata-se que, após a leitura dos textos motivadores, a abordagem adequada do tema se dá em relação ao fato de o protagonismo do trabalho de cuidado no Brasil se destinar à figura da mulher.

TEXTO

Por Professor Marcelo Braga

              Nas sociedades em geral, especialmente na brasileira, atribui-se à mulher o papel de cuidadora tanto do lar quanto de seus familiares, especialmente dos pais quando chegam à velhice ou são acometidos por alguma enfermidade. Embora seja uma visão distorcida em relação ao real papel desempenhado pela mulher na sociedade, essas atividades lhe são destinadas como uma obrigação do sexo feminino, não havendo, pois, a necessidade de reconhecimento. Isso se dá por uma questão cultural e histórica, na qual à mulher cabia o dever dos afazeres domésticos; e ao homem, o de prover a casa.

            Em relação à questão cultural, vê-se que ainda recai sobre as mulheres o estereótipo de dona de casa, independentemente das atividades laborais as quais exerçam no seu dia a dia. Daí o surgimento da tripla jornada de trabalho, sendo que, pelo terceiro expediente, nada recebem. Ao contrário, são constantemente cobradas e exigidas. Já no que se refere a mulheres que se dedicam apenas aos cuidados da casa e da família, a cobrança é mais intensa, porquanto não se têm as atividades domésticas como um labor, senão como uma obrigação, tornando-as invisíveis aos olhos da sociedade. A título de exemplo, pode-se citar a personagem dona Henriqueta, da obra “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, a qual dedicara a sua vida aos trabalhos domésticos, incansavelmente, a ponto de a filha, mesmo após a morte da mãe, escutar o barulho da roca a rodar.

            Além da questão cultural, o fator histórico contribuiu, sobremaneira, para a manutenção de uma ideia equivocada de que as atividades do lar são de competência exclusiva das mulheres, em especial das que detêm um menor poder aquisitivo. Essa postura, advinda de um pensamento patriarcalista, enseja mudanças de paradigmas cuja ruptura deve partir da condição de que homens e mulheres se apresentam no mesmo patamar de igualdade, conforme preceitua a Constituição Federal em seu artigo quinto, o qual afirma que todos são iguais no exercício dos direitos e dos deveres. Em vista disso, é também dever do homem a lida diária com os afazeres domésticos.

            Portanto, com o objetivo de permitir à mulher reconhecimento e visibilidade pelo seu trabalho de cuidadora do lar e da família, torna-se essencial que a sociedade rompa estereótipos e paradigmas, os quais perpetuam o atraso e o preconceito. Isso poderá ser concretizado tanto por meio de remuneração, quanto por meio de divisão de tarefas em que o homem possa também realizar essas atividades naturalmente. Dessa forma, garantir-se-á uma igualdade de obrigações, como assim determina a Constituição Federal, entre homens e mulheres.